segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O relato de quem viu de perto as cenas da tragédia que matou jovens em boate no Rio Grande do Sul

“Nunca, jamais vi algo assim na minha vida. Era cena de filme de guerra”. A declaração é da estudante de Economia, Rafaela Goetterms, 19 anos. Gaúcha, a universitária mora há dois anos em Santa Maria e na madrugada de hoje viu o que tentou descrever. O incêndio na boate Kiss que matou três amigos dela e ainda deixa mais quatro desaparecidos. A jovem estava na casa de colegas próximo à boate quando viu as notícias da tragédia pelas redes sociais, postadas por quem conseguiu sair da festa quando o incêndio começou. “Cheguei lá era 03h30. Bombeiros, polícia e ambulâncias estavam lá e a maioria das pessoas já tinha saído de dentro”, relata. A primeira impressão dela e dos amigos foi desesperadora. “Choque eu acho. Não dá para decifrar. Era gente correndo e chorando para todo lado. Gente machucada subindo a rua, sirenes de carros de Polícia”, descreve. Rafaela foi até o local porque sabia de amigos que tinham ido à festa, mas em meio à confusão do incêndio e socorro às vítimas, ela não conseguiu ver ou falar com nenhum deles. A estudante ficou até às 6h da manhã acompanhando o resgate dos corpos em frente à boate. “Vim embora quando vi gente morta, era demais para mim”. A jovem contou ao Campo Grande News que costuma frequentar a boate, mas que neste sábado não foi porque está no período de provas. Sobre a estrutura do local, ela relata que só existem seguranças e extintores. “O ruim mesmo é que só tem uma porta para sair de dentro. Tem duas rotas, mas que levam para a mesma porta de saída”, declarou. O clima na cidade é de comoção geral. Rafaela conta que toda população está arrasada e procurando conhecidos vivos. A tragédia chocou quem trabalha com notícias. Ao Campo Grande News, o jornalista há mais de três décadas, Vicente Pascotini, 53 anos tenta repassar o sentimento da cobertura feita desde a madrugada. “É um clima de comoção. Uma situação completamente inesperada, incontrolável, inenarrável”. Sobre a estrutura da cidade para uma tragédia como essa, Vicente comenta que Santa Maria não está preparada e que inclusive se está falando em um velório coletivo dos 232 corpos.“Eu tenho três filhos na idade desses jovens e pelo menos um poderia estar lá. Só não foi porque estava cansado. Eu nunca vi nada parecido. Os jornalistas que sempre estão fazendo a cobertura de fora, hoje nós todos estamos dentro da notícia. Porque todos nós perdemos amigos, parentes ou filhos de amigos”. Por telefone a professora Roseli Khol, que mora em Coxim, em Mato Grosso do Sul, mas está na cidade gaúcha para visitar a mãe, conversou com o Campo Grande News. O clima em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, é “desesperador”, tentou traduzir. Roseli disse que não se fala em outro assunto na cidade e que a dor das famílias é muito grande, com tantas mortes de jovens. “Era uma festa de universitários e terminou nesta tragédia”. Em Campo Grande o drama afetou também que tem parentes na cidade. A jornalista Aline Kraemer contou do horror que foi ver as notícias pela TV. Com uma prima que estuda Medicina Veterinária em Santa Maria, a jornalista se desesperou quando soube do incêndio. “Vamos ver a Cris, se está tudo ok, eu disse para minha mãe. Ela é estudante da universidade federal. Aí ela falou para a gente que não estava na cidade. Mas se eu tivesse visto que a festa era de Veterinária, eu teria apavorado ainda mais”, contou. Santa Maria, com 262 mil habitantes, é a quinta maior cidade do Rio Grande do Sul. A última contagem dos bombeiros revela ao menos 232 mortos no incêndio. O Governo do Estado do Rio Grande do Sul decretou sete dias de luto oficial e a Prefeitura de Santa Maria, 30 dias.

Foto: Maurício Barbosa/Zero Hora

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