Nesta segunda-feira (21) será iniciada a primeira etapa de redução da vazão mínima das barragens de Sobradinho (BA) e Xingó (AL/SE), ambas no Rio São Francisco. O nível de água que sai dos reservatórios para o rio vai baixar dos atuais 800 metros cúbicos por segundo (m³/s) para 750 m³/s. Depois de um período de teste e do monitoramento da redução, o volume da vazão poderá cair para 700 m³/s.
A ação foi autorizada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com o objetivo de poupar água no reservatório de Sobradinho para garantir a segurança hídrica do Nordeste.
Para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), a redução da vazão é necessária como medida emergencial, mas pode trazer consequências para a população da região, especialmente em relação ao abastecimento de água. O vice-presidente do comitê, Maciel Oliveira, explica que as companhias de abastecimento da região não estão preparadas para a captação de água com a vazão de 700 m³/s. “Isso pode causar bastante prejuízo no abastecimento para milhares de pessoas”, diz.
Outro problema que pode ser causado com a redução do nível do rio é a reprodução de peixes, pois agora é a época de defeso no Rio São Francisco. “Os peixes estão preparados para receber uma quantidade de água maior, e a redução da vazão causa estresse nos peixes muito grande. Algumas espécies não conseguem nem se reproduzir”, diz Oliveira. Segundo ele, também deverá haver problemas de navegabilidade em todo o trecho do rio.
“Devemos planejar melhor o futuro para que não passemos pelo que estamos passando nos últimos cinco anos, que são as reduções constantes de vazão. Temos que ter novas regras de operação dos reservatórios do São Francisco para que, quando estivermos em uma situação hidrológica melhor, não se desperdice água de uma maneira maior e não se sacrifique o Rio São Francisco apenas para a geração de energia”, avalia.Apesar de entender que a situação hidrológica atual requer medidas emergenciais, o vice-presidente do CBHSF defende ações a longo prazo para que o cenário não se repita nos próximos anos. Ele propõe que sejam feitas mudanças nas regras de operação dos reservatórios do Rio São Francisco, para preservar a água quando a situação hidrológica estiver melhor.
Com a falta de chuvas na região, a Bacia do Rio São Francisco vem enfrentando condições hidrológicas adversas nos últimos anos. Isso tem causado a redução dos níveis de armazenamento dos reservatórios. A situação tem levado a ações de flexibilização das vazões mínimas defluentes dos reservatórios. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), a redução temporária da vazão mínima dos reservatórios também leva em consideração a importância das usinas hidrelétricas de Sobradinho, Itaparica (Luiz Gonzaga), Apolônio Sales (Moxotó), Complexo de Paulo Afonso e Xingó para a produção de energia do Sistema Nordeste e para o atendimento dos usos múltiplos da água na bacia.
Segundo o diretor de Operação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique Franklin, o abastecimento energético da região está garantido por outras fontes, como termelétricas, eólicas e com transferência de energia do Norte e do Sudeste, por meio do Sistema Interligado Nacional. “Não há nenhum risco de desabastecimento ou racionamento”, disse Franklin.
A vazão mínima padrão dos reservatórios de Sobradinho e Xingó, em situação de normalidade, é de 1,3 mil m³/s, mas esse volume já foi reduzido várias vezes por causa da falta de chuvas na região. Desde janeiro deste ano, a vazão está em 800 m³/s. Com a redução de hoje, o Rio São Francisco alcança a menor vazão histórica, desde 1979, quando o Reservatório de Sobradinho foi inaugurado.
Na última sexta-feira (18), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais estimou que os reservatórios de Sobradinho e Xingó cheguem ao nível de armazenamento de 5% nos próximos dias.
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