A três meses de completar 37 anos, o PT está ameaçado pela fuga em massa de parlamentares e dirigentes. Um grupo que corresponde a 70% da bancada no Congresso já trabalha para deixar o partido, criar uma nova legenda ou mesmo engrossar outras siglas. Os entusiastas da fundação de um novo partido já traçam estratégias para não perder o rateio do Fundo Partidário, verba pública hoje essencial para a sobrevivência das agremiações, e o tempo de televisão. A ideia seria se unir a legendas já estabelecidas, como a Rede Sustentabilidade. Aproveitar a frustração dos militantes com a performance pífia da Rede nas eleições municipais para, juntos, engrossar as fileiras do novo partido. De antemão, no entanto, os desertores do PT impõem uma condição: que a ex-senadora Marina Silva não tenha ascendência sobre a nova sigla.
As conversas do chamado ‘grupo dos 40’ ganharam velocidade nos últimos dias, esquadrinhado o resultado eleitoral do PT nas eleições municipais. A avaliação corrente é de que o pior dos mundos seria a inércia, diante do naufrágio petista. Se os separatistas não possuem ainda todas as diretrizes definidas, já se sabe que, se o novo partido realmente vingar, será mais alinhado à esquerda, contra o neoliberalismo e defensor da ética e do combate às velhas e deterioradas práticas políticas. O objetivo é tentar se reconectar com o eleitorado que um dia já pertenceu ao PT, mas que hoje não quer nem ouvir falar em digitar o 13 nas eleições.
Além da Rede, os dissidentes já estão conversando com outras legendas para avaliar a possibilidade de fusão, como PC do B e PT do B. “Até o fim deste ano vai haver uma revoada no PT”, sentencia o senador Paulo Paim (PT-RS), um dos fundadores do PT. “Estou ameaçando sair do partido desde dezembro do ano passado. Eu disse na época à direção que o sonho havia acabado e que se nada fosse feito, se o partido não mudasse, seria o fim. Fiz o que pude, mas ninguém me ouviu. Agora, vou esperar até o final do ano. Até março quero estar em um novo projeto”, desabafa. Ele defende que as esquerdas se unam em torno de uma Frente Ampla popular.
Outra hipótese que já está sendo amplamente estudada é a migração em massa para o PDT. Embora não represente muita novidade, o Partido Democrático Trabalhista ofereceria algumas vantagens aos desgarrados. Em primeiro lugar, a identificação histórica com a causa dos trabalhadores. Depois, porque embora tenha tido pouca expressão nas urnas, a imagem dos pedetistas não está tão incinerada por denúncias de corrupção quanto outras. Atualmente, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) está entre os favoritos da esquerda para disputar a Presidência da República daqui dois anos, caso Lula esteja inviabilizado. A onda de defecção que assola parlamentares do PT também embala governadores petistas. O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), por exemplo, já avalia uma eventual mudança para o PSB.
Ciente da debandada em curso, nas últimas duas semanas, o ex-presidente Lula procurou lideranças das mais diversas correntes de seu partido e intensificou rodadas de conversas no instituto que leva seu nome, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Na iminência de ser preso e com a derrocada de sua legenda, Lula está tentando desesperadamente evitar que seus companheiros a abandonem. Ele já aceita até a tese de “refundação” da agremiação. O petista chegou a um caminho sem volta, em que está disposto a fazer qualquer coisa para tentar evitar uma debandada geral. Lula tem pressa. Não só por estar com a Lava Jato em seu encalço e saber que, se for encarcerado, ficará muito mais difícil trabalhar neste movimento de contenção. Corre contra o relógio para manter sob seus domínios os 40 parlamentares hoje à beira da porta de saída.
Cisão
A tentativa de evitar a cisão será intensificada esta semana, nos dias 10 e 11, na reunião do Diretório Nacional, quando os dirigentes vão tentar fechar um acordo para antecipar as eleições para a presidência do partido. O mandato do atual presidente, Rui Falcão, vai até dezembro de 2017, mas depois do fracasso nas urnas, ele aceitou encurtar seu tempo no cargo. A ideia de quem permanecer na legenda é a de fazer novas eleições entre março e maio do ano que vem. Falcão chegou a lançar Lula como candidato ao comando do partido, mas o ex-presidente sinalizou não querer o posto. Prefere se dedicar à sua defesa na Justiça.
Também já houve um movimento para lançar o nome do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Mas parece um jogo de batata-quente e ele também se recusou a encarar a missão. “Haddad disse que não estava disposto a assumir um partido no qual metade das lideranças está na cadeia e outra metade responde a investigações na Lava Jato”, disse um amigo próximo do prefeito. Sem o prefeito, Lula tem testado internamente os nomes dos ex-ministros Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, que já comandou a legenda outras vezes. Outro candidato a presidente é o senador Lindbergh Farias.
Mesmo que o comando do partido mude de mãos, as condições impostas pelos parlamentares revoltosos vão muito além da simples troca de comando. O ex-governador Olívio Dutra, um dos fundadores do PT, disse que a crise é resultado de atalhos que o partido tomou. Dirigentes foram se perpetuando no poder: “Essas pessoas dominaram a máquina do partido e, quando dirigentes se envolveram em irregularidades, a direção deveria tomar medidas estatutárias para expulsá-las, mas não o fez. Por que não se expulsou o José Dirceu quando ele foi pego em ilegalidades? Porque se constituiu um poder paralelo no PT”. Ele avalia que não basta agora mudar os nomes dos dirigentes: “Não adianta só tirar o sofá da sala. Precisamos discutir as teses de um partido socialista e democrático”.
Erros
Outro ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, defendeu na última quinta-feira (3), em entrevista ao “O Estado de S.Paulo”, que o partido faça uma profunda discussão de seus problemas, admita erros e reformule o partido. Caso contrário, “importantes líderes deixarão a legenda”, advertiu. Na mesma linha, o deputado Paulo Teixeira (SP) faz uma forte crítica ao atual modelo. Antigamente, o PT promovia encontros municipais, estaduais e nacionais, em que se discutia ideias e dali eram escolhidos delegados com legitimidade para representar a militância. “Depois, trocaram para eleição direta e esvaziou o debate político, surgindo os vícios do sistema eleitoral, com abuso de poder econômico e uso da máquina”, explicou. Deu no que deu. (Fonte/foto: IstoÉ)
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