O barco que afundou com mais de 70 pessoas na madrugada desta quarta-feira (23) no Rio Xingu — entre os municípios de Porto de Moz e Senador José Porfírio, no sudoeste do Pará — não estava legalizado para fazer o transporte passageiros
A embarcação "Capitão Ribeiro" não tinha registro fornecido pela Arcon (Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos). O naufrágio deixou 13 mortos e cerca de 40 desaparecidos. Vinte e cinco pessoas foram resgatadas com vida.
O barco saiu de Santarém e seu destino final era Vitória do Xingu, com paradas nos município de Monte Alegre, Prainha, Porto de Moz e Senador José Porfírio. O trecho do Xingu onde ocorreu o naufrágio é conhecido por fortes correntezas e tem profundidade de até 30 metros.
Segundo comunicado da Arcon, a embarcação pertence à empresa Almeida e Ribeiro Navegação Ltda e realizava "transporte clandestino de usuários". Embora tivesse sido notificada pela fiscalização da Arcon no dia 5 de junho deste ano para que providenciasse a regularização, nenhum diretor da empresa compareceu ao órgão público. Ou seja, ela continuava irregular, mas navegando normalmente pelos rios da região.
O naufrágio
O DJ e animador de festas em Altamira, Bruno Costa, de 32 anos, um dos sobreviventes e filho da ex-vereadora de Vitória do Xingu, Mercedes Costa, contou que o barco começou a naufragar por volta das 21h30 e 25 pessoas conseguiram se salvar, nadando até a margem do rio, no meio da escuridão. Segundo ele, elas ficaram cerca de seis horas nadando sem saber onde estavam e só conseguiram chegar à margem às 3 da madrugada.
"Graças a Deus, estou muito bem, mas tive momentos terríveis em minha vida, nesta madrugada. Era por volta de 21h30, quando começou uma tempestade muito forte. De repente, o barco começou a estalar e a afundar", relatou Costa. Segundo ele, a lona amarrada em uma parte da embarcação para que a água da chuva não molhasse as pessoas impediu muita gente de sair do barco, provocando pânico entre os passageiros.
Costa ainda conseguiu pegar uma criança de dois anos, embora estivesse sem colete salva-vidas, quando outro passageiro, na agonia de escapar, projetou-se sobre ele, rasgando suas roupas. "Aquele cara rasgou toda a minha camisa e eu fui para o fundo com a criança nesse momento, mas ao voltar à superfície vi várias pessoas perto de mim, gritando. Peguei um colete e me mantive na superfície, conseguindo também salvar a criança, mas outras pessoas não tiveram a mesma sorte. Agradeço a Deus por estar vivo", disse o jovem.
Resgate
O barco "Capitão Ribeiro" foi içado do fundo do rio no começo da tarde desta quarta e o trabalho se concentra na entrada dos mergulhadores para fazer uma varredura na tentativa de localizar pessoas presas dentro de compartimentos da embarcação. Além disso, lanchas e barcos procuram sobreviventes às margens do rio. As buscas devem ser retomadas na manhã desta quinta-feira, 24.
A polícia abriu inquérito e começou a ouvir os sobreviventes. "Os bombeiros só foram comunicados do naufrágio sete horas depois do acidente", segundo informou ao Estado o subcomandante-geral da corporação, coronel Augusto Lima.
Em nota, a Marinha do Brasil disse que enviou o navio-patrulha "Bocaina" e a Lancha Balizadora de Mar Aberto "Marco Zero" ao local para realizar buscas e coletar informações preliminares. "Um inquérito administrativo foi instaurado para apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do acidente", diz o órgão. A Marinha diz, ainda, que a embarcação que naufragou está inscrita na Capitania Fluvial de Santarém e se solidariza com as famílias das vítimas.
Segurança
Para o engenheiro naval Pedro Lameira, a segurança da maioria dos 60 mil barcos que navegam pelos rios amazônicos é problemática porque essas embarcações possuem "precárias condições para suportar um rápido alagamento" durante um acidente. Além disso, segundo ele, o excesso de carga e passageiros "compromete a estabilidade dos barcos".
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