sexta-feira, 5 de março de 2021

Poeta sertanejo transforma cotidiano em versos e produz o primeiro livro durante pandemia


 Repreendido pela gagueira e timbre de voz quando ainda era uma criança, um jovem de Serrita, no Sertão de Pernambuco, enfrentou os fantasmas da infância e superou a timidez através da poesia. Encantado pela cultura nordestina, o estudante universitário e escritor, Rodrigo Frazzão, de 24 anos, encontrou nos versos do cordel uma forma de falar sobre a vida e os sentimentos dele.

"Sofria bastante bullying por causa da minha fala, do meu tom de voz. Diziam que não era timbre de homem", lamenta.

Com o suporte emocional da mãe e da irmã, Rodrigo continuou escrevendo. Gostava de ver os vaqueiros fazendo aboios e se sentia inspirado. Costumava declamar as poesias para a família. Era através da escrita que ele podia ser quem era.

Com mais maturidade, o escritor conta que pôde entender que os comentários feitos pelas pessoas não o definiam. "Eu considerava a minha fala um fracasso, mas peguei os meus cacos, as minhas dores e transformei em arte".


Rodrigo negou por muito tempo o desejo que tinha de ser professor. Sentia vontade de fazer a graduação em letras, mas por conta da desvalorização da profissão, tinha medo de não ser bem sucedido. Pensava em trabalhar para ganhar bem e conseguir tirar os pais e o irmão da roça. "Sempre vi o sofrimento dos professores e não queria estudar para não ganhar muito". O jovem chegou a cursar administração, mas não gostou da área.

Frazzão até que tentou resistir, mas a vocação falou mais alto. Atualmente, ele cursa o 3º período de letras na Universidade de Pernambuco (UPE), em Petrolina, e trabalha como assistente financeiro em uma fazenda de uva no interior da cidade.

"Me identifiquei e é o que eu gosto. Se você é um bom profissional, não importa qual a profissão, você vai ganhar muito bem", destaca.

No ano passado, durante o período de distanciamento social por causa da Covid-19, sem poder ir a universidade e trabalhar, Rodrigo sentiu a necessidade de se expressar. Passou a fazer poesias, escrever cordel e gravar vídeos para publicar nas redes sociais. Bem recebido pelo público, o artista fez vários textos inspirados no cotidiano da zona rural de Petrolina, onde mora.

Com tantas produções, amigos e familiares o aconselharam a publicar um livro com as poesias. Sem saber como faria isso, Rodrigo procurou uma professora da faculdade que indicou uma editora. Através de uma vaquinha virtual com doações de pessoas de vários estados do país, ele conseguiu dinheiro suficiente para fazer a publicação do livro.

A poeta e professora, Mariza Novaes, explica como é a escrita do poeta na orelha da obra. Ela foi a responsável pela iniciação do jovem na leitura e poesia, ainda no ensino fundamental. "Ela enxergou potencial em mim, me ensinou a fazer cordel e me incentivou a ler meu primeiro livro", lembra o estudante.

Neste sábado (06), Rodrigo Frazzão finalmente vai realizar o sonho antigo dele. A obra 'O Poeta e o Isolamento', composta por mais de 60 poesias feitas em 2020, será lançada. Os versos falam sobre a solidão do isolamento físico, o amor pela vida no nordeste e inspiração para seguir em frente. "Ainda está caindo a ficha", conta o poeta. As pessoas interessadas podem acompanhar o lançamento no perfil do artista no Instagram, a partir das 20h.

"Quero lançar mais livros, tocar mais pessoas, fazer palestras. É um desejo que tenho em mim. Então, daqui pra frente é só sucesso, só não vou desistir".



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