Agora é oficial: faleceu em Goiânia (GO) o bispo emérito de Juazeiro, Dom José Rodrigues. A informação foi dada pelo padre Josemar Mota, vigário Geral da Diocese de Juazeiro. Na última sexta (07), rumores davam conta de que o religioso tinha morrido, mas a Diocese de Juazeiro afirmou que se tratava de um alarme falso.
Dom José estava internado em estado grave no Hospital Santa Mônica, após submeter-se a uma cirurgia para tratamento de uma hidrocefalia (acúmulo de líquido na cavidade craniana). Depois disso entrou em coma induzido, passando a respirar com a ajuda de aparelhos e a se alimentar por meio de uma sonda.
Dom José chegou a Juazeiro em 1975 para assumir a Diocese como segundo bispo da cidade. Na região, dedicou-se a uma luta histórica em prol das mais de 70 mil famílias desalojadas pela Barragem de Sobradinho (BA).
Nascido no estado do Rio de Janeiro, em 1926, foi professor de português no Seminário de Aparecida (SP), e entre 1966 e 1968 fez o Curso de Especialização em Catequese e Pastoral em Bruxelas. Voltando ao Brasil, trabalhou nas Missões em São Paulo, Minas, Paraná e Amazonas.
Em 1970 foi eleito Superior Provincial dos Missionários Redentoristas de Goiás e Distrito Federal. Em 1975 foi ordenado bispo e nomeado para a Diocese de Juazeiro. Na ocasião, a construção da Hidroelétrica de Sobradinho tinha desalojado 72 mil pessoas. Dom José entrou logo na luta em defesa dessas pessoas. Foi a primeira das muitas lutas pelos direitos dos pobres sertanejos, enfrentando inclusive a ditadura militar.
Sua capacidade de luta, sentimento de solidariedade com o povo excluído e sua intransigência na defesa dos direitos humanos fizeram com que fosse frequentemente acusado de ter uma atuação mais política, que religiosa – a exemplo de Dom Hélder Câmara no Recife (PE).
Desde que chegou a Juazeiro promoveu nove pastorais sociais (da Terra, da Criança, da Juventude do Meio Popular, da Mulher Marginalizada, da Saúde, dos Pescadores, Carcerária), criou o Setor Diocesano da Comunicação Audiovisual, com uma Biblioteca com 45 mil volumes, equipamentos de produção de rádio e televisão, jornalismo impresso, uma locadora com 2 mil títulos de vídeos para escolas e professores, além de três programas de rádio semanais.
Dom José chegou também a prestar depoimento em numerosas CPIs, como a da grilagem de terras na Bahia em 1977; na Comissão da Bacia do São Francisco em 1978, quando falou nos problemas causados pela construção da Barragem de Sobradinho; e na do Terror em 1981, entre outras. O bispo participou de numerosos debates sobre a seca e a fome no Nordeste e virou notícia em território nacional em 1986, quando se ofereceu para servir de refém num sequestro que parou a Ponte Presidente Dutra.
Membro da Associação Bahiana de Imprensa durante seis anos seguidos, Dom José recebeu o Troféu Mandacaru de Ouro, criado por um grupo de jornalistas do estado para homenagear os destaques do ano em política, economia, arte, cultura e religião.
Em 1992 publicou-se sua biografia em alemão, já traduzida e publicada e sob o título “O Bispo dos Excluídos: Dom José Rodrigues”. Começou na Diocese de Juazeiro a ideia de construção de cisterna para captação de água de chuvas, que virou política pública do governo federal. A Pastoral da Mulher Marginalizada, criada por Dom Tomaz, teve a sua consolidação no bispado de Dom José.