quinta-feira, 31 de maio de 2012

Lagoa Grande: segunda cidade do país a apresentar mais decretos de emergência por estiagem

Na segunda cidade do país a apresentar mais decretos de emergência por estiagem nos últimos 10 anos, Lagoa Grande, no sertão de Pernambuco, as professoras tratam a água do Rio São Francisco para evitar que os alunos fiquem doentes. Levantamento do G1 junto aos dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil mostra que duas cidades pernambucanas vizinhas são as "recordistas da seca". O município de Santa Cruz apresentou 16 decretos desde 2003, seguido por Lagoa Grande, com 15.

Lagoa Grande

A Prefeitura de Lagoa Grande (a 600 km do Recife) decretou situação de emergência pela última vez em abril deste ano. A zona urbana é parcialmente abastecida pelo Rio São Francisco, mas a água encanada não chega à zona rural. Na Escola Municipal Padre José de Anchieta, onde estudam cerca de cem crianças de Riacho do Recreio, as funcionárias resolveram fazer o "tratamento da água" por conta própria. Essa foi à saída para não colocar a saúde dos alunos em risco caso consumissem água de má qualidade, contam as professoras.Todos os dias, elas relatam que coam, fervem a água e, depois de resfriada, adicionam cloro e passam por um filtro. "A gente teve que tomar essa iniciativa, pois não dá para confiar na qualidade da água dos poços e dos carros-pipa. Nós conseguimos ver os resíduos que ficam no coador", conta a professora Eugênia Souza.

Banho a cada quatro dias

Josefa Maria da Conceição, 73 anos, mora em Santo Antônio, que fica a menos de 5 km do Rio São Francisco. Ela conta ao G1, constrangida, que passa até quatro dias sem tomar banho e que prefere usar a água da cisterna apenas para beber, cozinhar e dar aos animais.
"Eles só enchem a cada 15 dias e olhe lá. Às vezes, não tem nem para fazer o café e a gente passa fome. Falta alguém querer colocar cano aqui. Tenho a perna doente, não consigo chegar lá [no rio]", afirma.

Vizinho de dona Josefa, o agricultor Geraldino Firmo da Paixão carrega no peito a imagem de Santo Antônio. Neste ano, ele perdeu toda a plantação de feijão. "Não teve água para molhar os brotos. Foi assim com todo mundo por aqui", conta. Trinta famílias moram na comunidade sem sistema de abastecimento. A falta de água encanada castiga 7,6 mil pessoas que moram na zona rural. Quem não tem como reservar água, vai parar nas filas formadas em frente aos poços, munidos de latas, baldes e carrinho de mão.

"Eu faço dezenas de viagens, pois tenho 12 pessoas lá em casa", relata Maria Vilma de Souza, com a neta no colo. Erivaldo Silva é o responsável por bombear a água do poço. "Eu fico a manhã toda subindo e descendo a alavanca para puxar a água e ainda tenho que prestar atenção no pessoal. Tem gente que fura fila, leva o balde do outro", diz.

(Com informações do G1)

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