Para Joseph Blatter há um grande problema na Copa de 2014.
Não foi criado pela Fifa.
E feriu de morte o clima de alegria sonhado pelo presidente da Fifa.
O erro começou com Lula e foi perpetuado por Dilma.
"Muitas coisas foram prometidas aos brasileiros.
E não foram cumpridas."
Desabafou de forma direta à RTS, tevê pública suíça há menos de 30 dias.
Suas palavras foram ouvidas como traição no Planalto Central.
"Eles fizeram a mesma coisa na África do Sul, o mesmo discurso. Estive na abertura das Olimpíadas de Londres. Eu sou chefe de Estado, estava há uma hora no trânsito. Desci e tomei um metrô. Eu não chegava. Eu quero saber: o que nós prometemos que não entregamos."
A presidente Dilma Rousseff respondeu assim ao SBT há dois dias.
Quando ela diz 'prometemos' remete também ao ex-presidente Lula.
Foi ele quem aceitou as exigências da Fifa para fazer a Copa aqui.
E também o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva.
A lista de promessas não cumpridas infelizmente é grande.
A começar pelo uso do dinheiro público.
Havia o juramento que os cofres do governo não seriam sangrados.
Todo o investimento viria da iniciativa privada.
Os 12 estádios exigidos por Lula seriam erguidos por empresários.
Todos 'padrão Fifa' de qualidade.
Investidores deveriam duelar para conseguir fazer parte do projeto.
"Faço questão absoluta de garantir que a Copa de 2014 será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas. "Os estádios para a Copa do Mundo serão construídos com dinheiro privado. Não haverá um centavo de dinheiro público para os estádios."
Orlando Silva repetiu várias e várias vezes a afirmativa.
O governo federal já não tinha boa memória em relação a esporte.
Havia garantido que o Pan do Rio custaria R$ 450 milhões em 2007.
Saiu por mais de R$ 5 bilhões.
Não deixou legado algum.
O Engenhão interditado e o velódromo viraram seus grandes símbolos.
O estádio foi construído para o torneio.
Custou R$ 380 milhões.
Suas obras se atrasaram.
Foram aceleradas para ficar pronto para o Pan.
Seis anos após a inauguração ele teve de ser interditado.
Oferecia problemas graves na sua estrutura.
Está fechado desde 2013, com previsão para ser reaberto em 2015.
Um velódromo coberto foi construído para a competição de 2007.
Custou R$ 14 milhões.
Poderia ser adaptado para a Olimpíada de 2016.
Mas estranhamente se optou por destruí-lo.
E construir um novo pelo preço de R$ 147 milhões.
Além disso houve os prédios da Vila Olímpica que fariam parte do legado.
Ruas tiveram de ser refeitas com gastos oito vezes maiores.
Elas estavam afundando na Barra da Tijuca.
O asfalto cedeu e retas viraram ladeiras...
Voltando à Copa.
E às promessas de Orlando Silva e Lula sobre gastos.
Só nos estádios, a situação é constrangedora.
A CGU (Controladoria Geral da União) garantiu no início do ano.
R$ 8 bilhões foram gastos nos estádios.
E apenas R$ 820 milhões não foram dinheiro público.
Ou seja, pouco mais de 10%.
90% saíram dos cofres públicos.
Só que deverá sair mais.
Os custos não terminaram.
Principalmente em obras em torno das arenas.
Não será de estranhar se chegarem a R$ 10 bilhões.
O governo soube oficialmente que teria a Copa em 2007.
A promessa inicial é que deveriam estar prontas em 2011.
Depois se passou para a metade daquele ano.
Outra vez, o prazo foi mudado.
"Estamos monitorando a execução das obras, para que façamos a melhor Copa de todos os tempos. A reforma e a construção de estádios estão em ritmo adequado. Das 12 arenas que receberão os jogos, dez estão em obras, sendo que a conclusão de nove delas está prevista para dezembro de 2012."
As palavras foram de Dilma.
Seis estádios não estavam prontos no início do ano.
Vários não terminarão.
Haverá a necessidade de tapumes, principalmente em obras em torno.
Viadutos, calçadas e destroços serão escondidos por placas de madeiras.
Em Natal, pontos turísticos da cidade serão pintados nos tapumes.
Em Cuiabá, a avenida mais movimentada foi destruída.
Iria ser construído o Veículo Leve sobre Trilhos, metrô de superfície.
Seria para a Copa.
Mas a obra atrasou tanto que não deu tempo de ficar pronta.
Então se decidiu recolocar as plantas que já existiam na avenida.
Só para maquiar.
Maquiagem será a especialidade nestes seis últimos dias antes do Mundial.
"Nós queríamos apenas oito estádios. O governo brasileiro pediu 12. Foi para fazer seu ajuste político", revelou Blatter.
O presidente da Fifa está claramente cansado.
Irritado com as críticas ao Mundial.
Arrependido com a escolha.
E está repassando a culpa por tudo de ruim ao governo brasileiro.
Todos na organização da Copa sabem que há quatro elefantes brancos.
Estádios grandes demais para o futebol local.
Mesmo assim foram construídos.
As arenas de Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal.
Por pressão dos governadores.
A própria Dilma garantiu que haveria trens pelo Brasil por causa da Copa.
O mais representativo seria o trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro.
"Pretendemos ter os trens em 2014 para a Copa do Mundo.
Até porque é uma região muito importante em termos de movimentação na Copa.
Estarão prontos para a Copa."
A presidente disse cada palavra quando era ministra da Casa Civil em 2009.
Pois bem, não só o trem-bala não saiu para a Copa.
Como não há a menor possibilidade que seja construído para a Olimpíada.
Aeroportos modernizados foram prometidos por muita gente.
Lula, Orlando Silva, Aldo Rebelo e Dilma.
Só que pouquíssimas obras foram feitas nestes sete anos.
"Os nossos aeroportos não precisam ter padrão Fifa.
São padrão Brasil", ironizou a presidente cobrada pela modernização não feita.
Tantas promessas não cumpridas precipitaram as manifestações.
Ainda mais com o país com problemas crônicos na Segurança, Saúde, Educação.
Mais de 70% da Copa mais cara de todos os tempos saiu dos cofres públicos.
Sem legado real, o clima de decepção da população com o Mundial é evidente.
Sindicalistas com vários interesses incitam as mais variadas greves.
Que ganham rapidamente a adesão nas ruas por um mesmo motivo.
A sensação que o governo enganou a todos ao trazer a Copa do Mundo.
O que seria motivo de festa virou desperdício de dinheiro do contribuinte.
Pesquisa de hoje da Datafolha mostra.
A tendência de queda da presidente continua.
Ela caiu mais três pontos na corrida pela reeleição.
Passou de 37% para 34%.
Números terríveis em comparação à aprovação de Lula.
O ex-presidente deixou o governo com índice recorde.
De acordo com o Datafolha sua aprovação era de 70% em 2008.
Novos protestos durante a Copa podem fazer Dilma cair ainda mais.
Por via das dúvidas, Dilma está fazendo um revezamento pelas tevês.
Em entrevistas ela defenderá o Mundial no país.
E repetirá até o final como um mantra.
Garantirá que tudo prometido foi cumprido.
Ele deveria combinar também com o maior parceiro do governo na Copa.
Com a Fifa.
Blatter, aos 78 anos, continua com excelente memória.
Basta perguntar a ele por que o Mundial trouxe tanta tensão.
E abriu espaço para decepção, revolta.
"Muitas coisas foram prometidas aos brasileiros.
E não foram cumpridas."
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